Daniel Castelli
- Cristine Oliveira Avila Cherubini
- 24 de jun.
- 3 min de leitura
Nós da Casa Alma conhecemos o Dani Castelli por meio de um grande amigo da casa, o chef Carlos Kristensen. Mas foi a madeira que, de verdade, aproximou nossos caminhos. Dani chegou até a Casa Alma, viu de perto o que a gente vinha construindo — com esse olhar para o que é autoral, para o que carrega verdade — e, ali, sentimos que era um encontro de almas parecidas. Unimos nossos mundos pelo respeito ao tempo das coisas, pelo afeto nos detalhes e pela crença no que é único.
Todas as tábuas que vivem hoje por aqui — nas cozinhas, nas mesas e nos encontros da Casa Alma — nasceram das mãos dele. Mãos que carregam história, técnica, mas, acima de tudo, escuta. A escuta da matéria, da madeira, dos ciclos. Conversamos com o Dani sobre esse ofício que resiste à pressa e que convida à presença.

CA - O que te levou à marcenaria?
DC - Acredito que, na verdade, foi a madeira que me encontrou. Sempre tive uma relação muito forte com o fazer manual, com a matéria, com as coisas que carregam história. E a madeira tem essa potência — ela carrega o tempo, a memória da natureza, as marcas da vida. A marcenaria surgiu como uma maneira de me conectar com isso e, ao mesmo tempo, de criar objetos que atravessam gerações.
CA - No mundo de hoje, tão acelerado, o que significa trabalhar com um ofício que exige tanto foco e presença? DC – É quase um ato de resistência. O tempo da madeira não é o tempo da pressa. Trabalhar com as mãos, com um material vivo, me ensinou a desacelerar, a entender os processos, a respeitar os ciclos. É um convite constante à presença. E eu percebo que, mais do que produzir objetos, esse ofício produz encontros — com o tempo, com a matéria e comigo mesmo.
CA - O que você espera que quem usa uma das suas tábuas sinta ou perceba?
DC -
Que perceba que há vida ali. Que cada peça carrega uma história que começou muito antes de mim — na árvore, no território, no tempo da natureza. E que essa história segue, agora, nas mãos de quem usa. Espero que elas provoquem cuidado, acolhimento, vontade de celebrar os pequenos rituais do cotidiano.

CA - O que a marcenaria mudou na sua forma de ver o mundo?
DC – Me ensinou a olhar para o tempo de outro jeito. A madeira tem memória, tem marcas, tem imperfeições que, na verdade, são beleza. Isso mudou minha relação com o que é durável, com o que é essencial. Passei a enxergar valor no que é simples, no que é feito para durar, no que carrega verdade.
CA - Como foi o processo de criar as tábuas para a Casa Alma?
DC - Foi muito especial, porque há uma conexão muito natural entre o que eu faço e o que a Casa Alma representa. Busquei criar peças que traduzissem essa relação com o essencial, com o tempo, com a beleza dos materiais. Cada tábua foi pensada para ser mais do que um objeto — para ser quase uma extensão da casa, dos gestos, da mesa, dos encontros que ela acolhe.
CA - O que você gostaria que nunca se perdesse no fazer manual?
O olhar. Porque mais do que técnica, mais do que ferramentas, o que sustenta o fazer manual é o olhar atento. É perceber o que a matéria tem a dizer, é respeitar os processos, é colocar intenção em cada etapa. Eu gostaria que isso nunca se perdesse — esse jeito de fazer que não é sobre produzir, é sobre criar.

Mais do que a precisão das ferramentas ou a escolha da madeira certa, o que move Dani é o olhar. E é isso que ele deseja que nunca se perca no fazer manual: “Esse olhar atento. Esse jeito de fazer que não é sobre produzir, é sobre criar.”
Na Casa Alma, acreditamos que esse tipo de criação transforma não só os objetos, mas os espaços e os rituais que eles tocam. Obrigada, Dani, por transformar madeira em tempo compartilhado.
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